domingo, 23 de novembro de 2008

Azul

- Ainda é noite?
- É, mas está amanhecendo... Dorme mais um pouco, garota.
- Não, prefiro ficar assim.
- Assim?
- Olhando para você.


Ele estava azul. E eu estava com medo. Ele fechou meus olhos com as pontas dos dedos, colocou as mãos na minha nuca e me beijou. Não era um beijo, era um sopro, ele soprava, suave, os meus lábios. Era ele. Era aquilo que ele tinha de invisível que ele soprava para dentro dos meus lábios entreabertos. Eu me senti feita de fumaça, era como se ele pudesse me desmanchar se ele fosse um pouco mais brusco, ou como se eu fosse preciosa. Eu me senti preciosa aquela noite. Meu corpo já não era mais meu corpo, era o nada. Quando ele beijou meus olhos eu comecei a ser azul. Seus braços azuis me enlaçaram e ele beijou os meus cabelos, que agora também eram azuis. Eu também era azul, era azul como ele. Ele tinha me transformado num ser mágico, como ele era. Eu era vermelha, mas naquela noite eu fui azul. Uma noite azul, um homem azul e uma garota encantada.
Quando amanheceu eu voltei a ser vermelha, como a aurora. Ele também se transformou em vermelho, e assim, vermelho, ele me deixou. Sem olhar para trás.

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