domingo, 4 de janeiro de 2009

Sempre terei Solânea

Descobri que a menina que eu fui um dia ainda vive. E quem sabe viverá eternamente. Agora você pode se perguntar: onde? Em qual dimensão este fato milagroso ocorre? Terei muito prazer em dizer: “Não se trata de outra dimensão, isto ocorre em Solânea, cidade de meus avós e onde minha mãe cresceu.”Lá eu me transformo na menina que nunca morreu. Na menina que lá passava as férias, que mexia nas agulhas do avô (que é alfaiate) tentando costurar (o que não sabe fazer até hoje!), que fazia de um quintal um reino, que sempre encontrava florestas encantadas em simples plantações de milho, que era o que queria ser sem se preocupar com nada. Só agora vejo o que meus olhos adultos não enxergavam. Aquela menina ainda estava lá, esperando a mulher que se tornaria, para ajudá-la a lembrar-se que a vida nunca é aquilo que pensamos, pois as mudanças ocorrem sempre. Lembra dos sonhos esquecidos, dos medos, superados ou não, de tudo o que foi tão bonito, tão simples. Palavras não descreveriam o que senti quando a vi pela primeira vez.Ela estava costurando na máquina do avô, costurando mais os dedos do que o pano, mas achava que quando crescesse costuraria um vestido de princesa. Alinhavado com ouro e prata, como o da moça da história da Moura-Torta.Também revi com os olhos dela o meu avô. Meu avô mágico, bravo, com tantas aventuras pelo “mundão afora”, e todo o sentimento de orgulho voltou. Acrescentou-se o orgulho dos bisavôs revolucionários que morreram pelo que acreditavam.Vi a minha menina e acreditei que eu poderia fazer melhor, não por mim, mas por ela, que onde quer que esteja está esperando o dia que conseguirá costurar seu vestido de ouro e prata.


(Texto antigo, na época eu tinha 17, o que me faz pensar: SOU UMA VELHA!)

Um comentário:

kilder disse...

bem legal o seu blog!!! bacana...

boa sorte!