segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O bosque das mangueiras

Quando eu era menina e ainda estudava numa escola do bairro eu costumava passar todos os dias no “Bosque das Mangueiras”. Bem, não era exatamente um bosque e nem tinha apenas mangueiras, mas o nome me parecia tão bonito que eu o chamava assim. Na verdade o “bosque” eram apenas duas quadras baldias com algumas poucas árvores, umas vinte, para se ter idéia. Para passar pelo “bosque” tinha de ser feito um trajeto mais longo, e eu o fazia todos os dias. Perto dali existia um casa que colecionava primaveras e elas eram tão grandes que passavam pelo muro e davam para a rua, na ida para a escola eu as levava para a professora, a “tia”, na volta eu as trazia para minha mãe. Lembro-me que quando chovia, mangas verdes caíam e eu as transformava em bois, cachorros, gatos, pessoas, enfim tudo que eu pudesse inventar com manguinhas e palitos de fósforo. Hoje já não tem mais mangueiras nem flores pelo caminho, no lugar construíram duas igrejas evangélicas e uma escola pública. Ainda tento sentir o cheirinho de barro molhado e as muitas frutinhas derrubadas pela chuva do dia anterior, mas, como era de se esperar, não sinto nada. Só lamento que tenham acabado com o meu local sagrado, onde até hoje eu tento reencontrar a menina que catava flores e mangas e era mais feliz que a mulher de agora.

2 comentários:

Niaranjan disse...

memorias de nossas infância que se perdem perante a "evolução das cidades", só ficamos muitas vezes nesse saudosismo de tempo passados...
THE E.D.E.

Elton Rosa disse...

os lugares que costumamos ir quando somos crianças se tornam sagrados mesmo, lembro de cada lugarejo... lembro do cheiro, do som. vc me fez lembrar tudo isso, toda sinestesia da minha infância.