sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Leveza

Saltos virados no chão a beira da cama de um motel. Lençóis úmidos de suor e saliva, incontestável mistura humana. Ele se permite descansar três minutos antes de tomar banho e despachar o lindo pedaço de carne de vinte anos que está semi desfalecido ao seu lado. A partir do momento em que se levanta da cama para ir ao banheiro seus passos não o distanciam apenas fisicamente. Quando caminha quatro passos ele já se esqueceu dela, sua mente agora vagueia para outro lugar. Seus pensamentos repousam no profundo deleite que o homem sente ao levar uma criatura mais nova para um motel. Nada dá mais poder a um homem do que convencer um jovem mulher a fazer sexo com ele, pagar a conta do motel e extrair de seu corpo o máximo que ela puder proporcionar.

Depois o gran finale, deixá-la. Sem grandes explicações, claro, e se possível fazendo-a se sentir culpada, afinal ele é um homem casado, pai de família com remorsos por ter cedido aos encantos de uma leviana. Grande prazer esse.

A verdade é que a leviana que cochila na cama não é primeira a corromper o honesto senhor casado. Ela é a vigésima sexta, mas acredita ser a primeira. Desde que o correto pai de família achou que envelhecia passou a se interessar pelas estagiárias, as namoradinhas do filho mais velho, as garotas de uma república estudantil perto da sua casa. Enfim, qualquer par de pernas que trouxesse com ela um sopro da juventude que ele já havia perdido.

Essa ele encontrou no shopping, ele lhe pagou uma bebida enquanto ela estava sozinha numa mesa. Ela lhe falou muito sobre carência, ele lhe falou muito sobre a solidão, mesmo quando se tem alguém do lado. Explicou que era casado, mas que se sentia tão sozinho. Ele adorava fazer o papel do esposo solitário, com uma alma romântica. Achou que ela entendia perfeitamente a situação e até se sentia solidária. Solidária, gosta de dar ao próximo. Ele estava próximo. Já que ela era uma jovem universitária carente, começou a falar nas ligações do espírito. Quando encontramos alguém e parece que já o conhecemos há séculos. Quando acontece um encontro tão raro, nenhuma convenção social pode afastar essas duas pessoas.

Foram para um motel perto dali. Ela aceitou tudo muito bem, sair com um cara mais velho, casado, logo assim de cara, deve ser a coisa mais normal do mundo para essa coisinha jovem. A juventude e suas levezas... Isso é uma bênção!

O infiel com alma de ator de dramalhão mexicano desperta de seus deleites pela Lady Gaga que começa a cantar dentro da suíte do motel. Na realidade era o celular da pobre vítima que tocava. Ele achou que esse era o momento de entrar em cena o pobre marido arrependido.

- Hey, cara, como você tá? – A pobre vítima no telefone – Nada de importante, e você? Ai, jura? Ok, então. Beijos!

Antes que o nosso senhor abrisse a boca, a jovem pulou da cama e passou por ele em direção ao banheiro. Ele achou de bom tom esperar que ela acabasse de tomar banho para poder comunicar à garota que não pode mais ser, que essa história nunca daria certo, que ele lamenta não poder continuar, mas ela é jovem. Amante arrependido, perfeito, romântico com um quê de canalha. Perfeito.

Ela volta ao quarto já vestida com a calça jeans, procurando sua blusa pelo chão.

- É, querida, não sei como dizer, mas... – ele começa.

- Ah, escuta, tem como você me dar uma carona?

- Carona?

- É, meu namorado acabou de chegar na cidade e eu estou louca de saudades!

- Você tem namorado? Por que não me disse antes?

- Você não me perguntou! Eu estava esperando por ele no shopping e estava tão entediada. Você usa o mesmo perfume que ele, então eu resolvi aproveitar um pouquinho.

Ele se deixou ficar com a toalha na mão sentado na beira da cama. A juventude e suas levezas...

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